Autoridade em saúde pública alerta que o receio em molhar ou suar os fios leva mulheres ao sedentarismo
No "Delas"

O problema, para Benjamin, é que muitas mulheres investem quantias consideráveis de dinheiro e tempo em relaxamentos e outros tratamentos químicos para transformar os cachos naturais em looks lisos e sedosos. Umidade e movimentação, porém, podem rapidamente desfazer os procedimentos e, em função disso, elas evitam atividades físicas de vez.
A feira que Benjamin participou – a Bronner Bros International Hair Show – reúne 60 mil hairstylists, incluindo aqueles especializados em tratamentos para fios afros. “Odeio usar a palavra ‘desculpa’ mas essa é uma delas”, disse a diretora. “Queremos encorajar pessoas e também dar às mulheres a possibilidade de se sentirem bonitas por sua saúde”.
Outros experts médicos apontaram que o fator estético é apenas um entre vários obstáculos do exercício. Para quem lida com cobranças familiares, dos filhos e do trabalho, fazer uma hora de exercício pode parecer um luxo e ao final do dia e muitas mulheres "estão simplesmente cansadas”, disse Panela Peeke, professora assistente de medicina na Universidade de Maryland e porta voz da Faculdade Americana de Medicina Esportiva. “Escuto isso dos meus pacientes o tempo todo”, diz.
Pesquisadores do Wake Forest Baptist Medical Center, na Carolina do Norte, avaliaram 103 mulheres negras e perceberam que um terço delas se exercitava menos por conta da preocupação em prejudicar seu cabelo. Dessas mulheres, 88% não seguiam a recomendação de fazer 150 minutos semanais de atividade física de média intensidade. Amy McMichael, que comandou o estudo, disse que notou que algumas das suas pacientes acima do peso mencionaram o cabelo entre os motivos pelos quais não faziam ginástica.
Desde que começou a ocupar o cargo de Surgeon General, Benjamin lançou iniciativas para estimular exercício físico, boa alimentação e contra o fumo. Mas seu ponto de vista da relação entre o cabelo e a saúde é o que recebeu mais atenção. “Não são só as mulheres negras. Tenho falado com muitas pessoas e percebi isso com outras pacientes também. Elas dizem: arrumo meu cabelo uma vez por semana, não quero estragar”.
Rebecca Alleyne, uma cirurgiã de câncer de mama de Los Angeles, disse que corria, andava de bicicleta e nadava seis dias por semanas até um ano e meio atrás, quando ela colocou extensões nos cabelos. “Sabia que iria parar um pouco. A barreira para mim eram os 60 dólares e duas horas e meia de investimento, que me deixaram parada alguns dias para preservar meu cabelo”. Em seis semanas ela diz que ganhou dois quilos e meio.
Jackie Gordon, 47, secretária executiva, começou a alisar seu cabelo na adolescência. A companhia onde ela trabalha até permite pausas maiores na hora do almoço para quem vai fazer exercício, mas ela não acompanha os colegas na aula de spinning: “é muito esforço arrumar meu cabelo depois, mas quando digo isso percebo os olhares. Dizem que estou dando desculpas”, diz ela. “Tenho que secar e modelar meu cabelo, é no mínimo hora de trabalho”, completa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário